sábado, 22 de outubro de 2011

Digital Methods and Tools for Historical Research

"Digital Methods and Tools for Historical Research" is the title of an international workshop to be held at Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, on 18 and 19 November, 2011.

Organization: Luís Espinha da Silveira and Daniel Alves

Presentation: With this initiative we intend to discuss the implications of using digital technologies in the production and dissemination of knowledge in History. We seek to understand how a set of digital methodologies has influenced historical research, to discuss its advantages and disadvantages, as well as to identify innovative ways of linking the future of the digital world to the study of the past. On the first day, the meeting goes around four thematic sessions dedicated to the presentation and discussion of different methodologies (relational databases; geographic information systems; text encoding; digitization and preservation of digital memory). The program of that day closes with a conference on the significance of historical research in a digital environment. The second day will be filled with three workshops devoted to relevant digital tools for historical research, including GIS, text encoding, and reference management software. We expect this conference stimulates discussion about the interaction between History and Information Technology, and encourages its use by the academic community, especially young researchers.

Dates: 2011, November, 18th-19th (free attendance)

Location: I&D building, 4th floor, room 2 (FCSH, Av. de Berna, 26-C, 1069-061 Lisbon, Portugal)

Program:
Friday (18th) (Room 2, 4th floor, I&D building, FCSH)
9:00 – Opening
9:30 – 1st session: Primary sources and relational databases
John Bradley (King's College London), Silk purses and sow's ears: in what ways can structured data deal with historical sources?

Joaquim de Carvalho (Universidade de Coimbra), Combining source oriented and person oriented data models in prosopographical database design

moderator: Daniel Alves (IHC, FCSH-Universidade Nova de Lisboa)

11:00 – coffee break

11:15 – 2nd session: Interaction of space and time: GIS and History
Paul Ell (Queen's University Belfast), Humanities Geographical Information Systems: texts, images, maps

Luís Espinha da Silveira (IHC, FCSH-Universidade Nova de Lisboa), GIS and historical research: promises, achievements and pitfalls

moderator: Marco Painho (ISEGI - Universidade Nova de Lisboa)

12:45 – Lunch

14:30 – 3rd session: Decoding historical sources: Text Encoding
Malte Rehbein (Universität Würzburg), Text Encoding: a historian's perspective

Rita Marquilhas (Centro de Linguística - Universidade de Lisboa), The automatic research of digital editions

moderator: Andreia Martins (FCSH-Universidade Nova de Lisboa and King’s College London)

16:00 – coffee break

16:15 – 4th session: Internet, digitization and digital preservation
Melissa Terras (University College London), Exploring the potential of Digital Humanities with the Transcribe Bentham project

Daniel Gomes (Portuguese Web Archive – Fundação para a Computação Científica Nacional), Web archiving

moderator: José Borbinha (Instituto Superior Técnico)

17:45 – coffee break

18:00 – Closing conference
Peter Doorn (Data Archiving and Networked Services, Nederland), Computational history among e-science, digital humanities and research infrastructures: accomplishments and challenges

Saturday (19th) (Room T8, Tower B, FCSH)
Workshops (11:00 - 13:00):
A – Historical GIS (Luís Silveira and Ana Alcântara, FCSH-UNL)
B – Zotero (Daniel Alves, FCSH-UNL)
Workshops (14:30 - 17:30):
C – Text Encoding (Julianne Nyhan, University College London)
D – Atlas.ti (Pedro Sousa, FCSH-UNL)

terça-feira, 29 de março de 2011

Bibliografias e investigação simplificadas com o Zotero

Ainda se lembram daquele trabalho de licenciatura no qual ficaram a faltar algumas notas de rodapé fundamentais? Ou da dissertação de mestrado para a qual a escolha da bibliografia foi uma das várias angústias? Ou do doutoramento, onde a quantidade de livros e artigos a consultar parecia um poço sem fim? Ou daquele artigo em que foi difícil acertar com a forma de citação bibliográfica exigida pela revista? Gostavam de, finalmente, colocar alguma ordem na sempre crescente biblioteca caseira ou nas fichas de leitura? Se a resposta a todas, ou a algumas, destas questões for “sim”, então, o Zotero é a ferramenta digital ideal. No mês de Julho (entre os dias 11 e 15) vou dar novo curso sobre esta ferramenta que facilita a recolha, gestão e utilização de referências bibliográficas e não só!

quinta-feira, 24 de março de 2011

História 2.0: oportunidades e desafios de um olhar digital sobre o passado

[Texto da comunicação feita no dia 24 de Março de 2011 no VI Encontro Nacional de Estudantes de História, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa]

As tecnologias digitais e a sua mais recente evolução em particular, a chamada Web 2.0, podem ser consideradas como potenciadoras de uma verdadeira revolução, mais do que da mera comunicação, do próprio conhecimento e da cultura em geral. Contudo, tal como os outros tipos de revolução, existem determinadas vertentes desse conhecimento que estão a ser profundamente alteradas e outras que, pelo que nos é possível observar no presente, permanecem imutáveis, persistem, se quisermos utilizar uma expressão do célebre título de Arno Mayer, A persistência do Antigo Regime(Mayer 1981). No que ao conhecimento histórico diz respeito, cabe perguntar que parte está já a ser afectada pelo movimento digital e que parte permanece imóvel? E em que medida as mutações estão a contribuir para novas formas de produção científica e de acesso ao conhecimento histórico? Será que as “promessas” da revolução digital vão cumprir-se no que diz respeito à História e à transformação do trabalho do historiador, ou vão sobrepor-se os supostos “perigos”(“Promises and Perils of Digital History”, introdução do livro de Cohen e Rosenzweig 2006) inerentes ao recurso às novas tecnologias, condicionando a utilização das mesmas pelo mundo académico?
Mais do que encontrar respostas definitivas, pretendo aqui apresentar e discutir algumas oportunidades e desafios, mais estes que as primeiras, que a utilização do digital pode trazer para a História, enquanto disciplina, e para o historiador, nomeadamente, ao nível da escrita e da divulgação do conhecimento historiográfico.

No início da década de 1990, quando os browsers da Internet começavam a dar os primeiros passos, a comunidade académica dividiu-se na interpretação dos sinais que apontavam para as consequências do futuro do novo mundo digital. Se uns tinham uma perspectiva positiva e consideravam estar na presença de uma verdadeira revolução do conhecimento, que levaria a profundas mudanças nas próprias salas de aula e na forma como se passaria a ter acesso à informação; outros viam precisamente nesses factores um caminhar para o abismo daquilo que era um sistema milenar de produção e validação do conhecimento científico. Se uns anteviam o paraíso através da disponibilização em formato digital e em velocidades estonteantes de todo um conjunto de informação até aí pouco acessível; outros adoptavam uma perspectiva muito próxima dos Luddistas do século XIX, profetizando uma destruição das diferenças “entre o verdadeiro e o falso”, da credibilidade académica ou mesmo de todo o “sistema de educação superior”(Cohen e Rosenzweig 2006).

Actualmente estaremos mais próximos do paraíso ou da destruição? Para responder a esta questão será útil continuar a viagem no tempo. Apesar dos debates iniciais, em 1999, continuava-se a afirmar que a comunidade dos historiadores permanecia dividida entre os que resistiam à ideia de fazer uso de tecnologias em ascensão, como os “catálogos electrónicos das bibliotecas ou o email”, e aqueles que abraçavam de forma entusiasta o que o mundo digital tinha para oferecer(Ayers 1999).
Permanecia a ideia de que pouco ou nada tinha mudado na forma tradicional de escrita da História. Não se vislumbrava ainda qualquer efeito ou sequer uma discussão alargada sobre os possíveis efeitos que o digital poderia introduzir na produção de conhecimento historiográfico e na sua divulgação, nomeadamente, ao nível da narrativa histórica ou no que dizia respeito às forma de acesso a uma audiência desejavelmente mais ampla para os trabalhos historiográficos(Ayers 1999).
Havia, porém, quem sondasse o futuro e antevisse um quase perfeito casamento entre a História e as tecnologias digitais. Estas tinham o condão de potenciar uma democratização do público-alvo da História, de estimular a diversidade temática ou de desenvolver o interesse por novas técnicas narrativas. Essas, eram, em 1999, as promessas expectáveis do digital, mas falava-se já de algumas conquistas, como o desenvolvimento da comunicação e partilha de ideias entre os historiadores, algo conseguido através do recurso à Internet(Ayers 1999).
Ao nível da publicação e da disseminação de resultados havia também algumas ideias sobre o que o futuro poderia trazer, face ao que acontecia já com a disponibilização de algumas, poucas, revistas online. Nesta altura, a tecnologia de ponta era o Cd-Rom e previa-se um aumento na disponibilização de fontes através da Internet, fruto de grandes projectos de digitalização de documentos(Ayers 1999).
Apesar de algumas conquistas da primeira década da expansão das tecnologias digitais ao mundo da produção historiográfica, aparentemente, pouco se tinha conseguido alterar em relação à narrativa histórica, à forma de construção do discurso historiográfico, que não recorria aos artifícios da interactividade, características intrínsecas do digital e que, no caso de um certo tipo de Literatura, estava a proporcionar ao leitor a sensação de estar a participar na construção do enredo(Ayers 1999).
Em 1999 acreditava-se que a “História digital poderia ser um catalisador e uma ferramenta na criação de um tipo de História mais literário”, mantendo, contudo, “uma rigorosa fidelidade à referenciação das fontes”. Continuava-se a privilegiar o livro, o texto impresso, é certo, mas pensava-se já numa narrativa histórica que pudesse fazer uso de todas as capacidades do HTML e do então nascente XML, uma narrativa que fosse construída a pensar na teia de links e nós que constituem a World Wide Web(Ayers 1999).
O hipertexto, com a sua multiplicidade de ligações e narrativas possíveis, iria levar a uma História mais complexa, multifacetada, talvez mais exigente na preparação do discurso, na construção e sustentação dos argumentos, uma vez que teria de lidar com múltiplas possibilidades de leitura. No fundo, previa-se que o aprofundamento da ligação entre a História e a Internet acabaria por fazer com que a primeira perdesse o seu tradicional discurso linear.
Uma das evoluções previstas para a História era o retorno à ligação privilegiada que já tinha tido com as outras ciências sociais, na medida em que só a colaboração interdisciplinar tornaria possível uma História “mais dinâmica, interactiva e reflexiva” que elaborasse uma descrição do passado mais complexa. Nesta visão, as tecnologias digitais, por facilitarem ou mesmo incentivarem essa multiplicidade de pontos de observação, eram consideradas como uma natural evolução para a História enquanto disciplina. O futuro iria trazer a História Digital, uma História que se tornaria, “simultaneamente, sofisticada e acessível”(Ayers 1999).
Porém, apesar de todo este entusiasmo, o aspecto a que se dava ainda maior relevância na ligação entre a História e o Digital era o da capacidade de armazenamento de informação e da velocidade do processamento da mesma. Ao mesmo tempo chamava-se a atenção para um dos riscos da, sempre crescente, aceleração tecnológica, o da dispersão e vulgarização do conhecimento, entendido como uma desvantagem, na medida em que para além de democratizar, os media digitais poderiam contribuir para um empobrecimento geral da qualidade desse mesmo conhecimento. A História dificilmente conseguiria fugir a esse destino e caberia aos historiadores saberem aproveitar a onda tecnológica para procurarem contrariar a tendência(Ayers 1999).

Meia dúzia de anos mais tarde, um novo diagnóstico à interacção entre História e Digital parecia apontar para as mesmas conclusões. Embora não se negasse que as tecnologias digitais tinham trazido mudanças em termos sociais, nos comportamentos quotidianos, na pesquisa de informação, na forma de comunicação ou até mesmo alterações no modo como se “investiga, escreve, publica e ensina” História afirmava-se estar ainda muito longe do Éden digital e isto no “longínquo” ano de 2005(Introdução em Cohen e Rosenzweig 2006).
Reforço a perspectiva de distância temporal porque, efectivamente, se olharmos para a velocidade das mutações tecnológicas, 6 anos é um gigantesco salto no tempo e são outros 6 que nos separam da análise feita em 2005. Nova meia dúzia de anos que viram nascer a chamada Web 2.0, a Web social e colaborativa. Só para dar alguns exemplos dessa velocidade repare-se que, em 2005, o Facebook estava na infância e passava praticamente despercebido fora do meio académico (estudantil!) das universidades norte-americanas. O YouTube nasceu nesse mesmo ano; o MySpace só em 2004 tinha adquirido características de rede social. Comparada com todos estes, a Wikipédia, lançada em 2001, era já uma velhinha da Internet. Um último exemplo para referir que, em 2005, ainda não tinha nascido o Twitter, que nos dias de hoje é usado, tanto para a realização de conferências científicas (ThatCamp: The Humanities And Technology Camp), como para divulgar os mais recentes desenvolvimentos das Revoluções no Mundo Árabe.
Uma vez mais, mostrando o pouco que se tinha avançado, o que era destacado em 2005, como uma das principais vantagens do uso das tecnologias digitais para os historiadores, era a capacidade de armazenamento e processamento de informação que elas disponibilizavam(Cohen e Rosenzweig 2006). A chamada de atenção, novamente, para esta capacidade do digital de colocar em pequenos espaços uma enorme quantidade de informação, pode parecer redundante, mas o certo é que essa característica traz já algumas consequências ou desafios para o trabalho dos actuais historiadores e que irão ser determinantes na moldagem da forma de abordar o passado dos futuros historiadores.
Talvez o desafio mais significativo seja o da superabundância de dados, que levará necessariamente a alterações na forma como o historiador constrói a sua visão do passado. Habituado à escassez de informação, obrigado, na maior parte dos casos, a lidar com dados lacunares e dispersos, tendo elaborado toda uma metodologia de construção do saber histórico assente no permanente confronto e comparação de fontes complementares, o problema que agora se coloca e que se vai avolumar daqui para a frente é o da selecção e avaliação da pertinência de um grande volume de dados.
Poder-se-á dizer que isto já era feito antes da era digital. Num passado, apesar de tudo, não muito longínquo, o historiador recorria, como sempre o fez, à selecção e avaliação de fontes para conseguir levar por diante a sua análise. Contudo, existe uma diferença assinalável, pois enquanto antes recorria a esta metodologia, essencialmente, para conseguir ultrapassar as lacunas do passado, agora ele tem de pensar seriamente na forma e nas ferramentas de selecção de informação para poder conseguir lidar com um volume de dados que tende a ser avassalador.
Esse volume de informação e as formas digitais, interactivas, de aceder à mesma vão começar ou estão já a começar a colocar outros desafios, nomeadamente, à própria narrativa histórica. Num artigo publicado em Dezembro último na revista History and Teory, é afirmado que o conceito actual de narrativa histórica tem de ser encarado de forma diferente, não porque os historiadores estejam a fazer um uso distinto da mesma, mas porque a narrativa, em termos gerais, está a mudar, em grande medida, fruto de pressões externas, sendo a mais significativa a que é exercida pelos meios de comunicação digitais(Rigney 2010, 100-104).
Ao procurar teorizar sobre este impacto, a autora do artigo, Ann Rigney, socorre-se do trabalho de Marshal McLuhan, A galáxia de Gutenberg(McLuhan 1977), e da sua ideia sobre a cultura do livro impresso como algo que veio impor uma definitiva separação entre o autor e o público, na medida em que fixando o seu discurso, o livro dificultaria a interactividade e a espontaneidade que, na sua visão, eram características da cultura oral. Nesse sentido, sendo o discurso historiográfico, ainda hoje, maioritariamente fixado nesse meio de comunicação, também o podemos classificar como um produto, uma narrativa, que restringe ou limita a interactividade e a espontaneidade. Algo que, como se percebe, vai claramente em sentido oposto ao que é a tendência do momento cultural actual, influenciado por aquela Web 2.0 de que dei alguns exemplos atrás.
Apesar disso, os historiadores sempre recorreram a outras formas de mediação, eminentemente orais e em certa medida participativas, como o são as conferências, congressos e eventos afins. Contudo, essas características de interactividade e espontaneidade, presentes na cultura de tradição oral e, em grande medida, ausentes na sua forma impressa, é preciso afirmá-lo que durante muitos anos e fruto de uma cultura de “persistência do Antigo Regime” fizeram parte de um jogo, consciente ou inconsciente, que definia e delimitava o poder, o prestígio e até a aura de respeitabilidade que a profissão académica tem gozado. O que não é de molde a facilitar as mudanças, como se compreende.
Ora, são as características de fixidez, pouca interactividade e rara espontaneidade da cultura impressa que estão a mudar nos últimos 20 anos e com espantosa velocidade nos últimos 5 a 6 anos. E ao mudarem, vão certamente colocar desafios, se não estão já a fazê-lo, ao historiador. Não porque a profissão de historiador ou o seu modo de escrever História tenham mudado intrinsecamente, internamente, nestes últimos anos, mas porque estão a ser cada vez mais pressionados a isso pelas mudanças de paradigma em termos de publicação e divulgação culturais impostas pelos media digitais. Neste caso, as mudanças não são apenas relativas ao meio de publicação, à passagem do impresso para o digital, mas têm implicações em termos culturais e sociais, na medida em que os novos meios “aceleram o fluxo da informação, geram redes e mudam atitudes”(Rigney 2010, 105) em relação a aspectos desde sempre acarinhados ou até ferozmente defendidos pela academia, como são os direitos de autor, a autoridade científica e a fiabilidade da informação.
Não pretendo aqui discutir se as tecnologias digitais estão a colocar esses aspectos em causa no bom ou no mau sentido, mas é inegável que estão a ter esse impacto e ele é tão mais importante para a História quanto mais importante for o impacto das tecnologias digitais no quotidiano dos indivíduos e na moldagem do seu modo de aceder e participar na cultura e na circulação da informação em geral. Isto quer dizer que as mudanças serão mais evidentes para uma geração de futuros historiadores que já nasceram na era do digital e da Internet, do que para aquela geração que cresceu profissionalmente à sombra dos velhos paradigmas. Mas mesmo para estes historiadores, as tecnologias digitais representam desafios, pois para poderem continuar a cultivar uma audiência para o seu trabalho (é impensável supor que se possa produzir História apenas para uma pequena clique académica ou apenas para gozo e realização pessoal) também eles terão de adaptar a narrativa histórica para uma forma que vá de encontro à hipertextualidade dos dias que correm.
Para além disso, a massiva disponibilização e facilitada acessibilidade da informação, na forma de grandes projectos de digitalização, tenderá, muito provavelmente, a forçar os historiadores a serem ainda mais exigentes com a abordagem do seu objecto de estudo, evitando generalizações escassamente fundamentadas, por exemplo, uma vez que uma parte significativa dessas fontes tende também a ficar disponível para escrutínio público(Cohen 2010). É claro que existe um reverso da moeda, que é a cada vez maior dificuldade, num mundo onde a informação é mais democrática e aberta, em conseguir ser original e inovador ou em manter o foco de atenção em problemas historiográficos realmente pertinentes, procurando não cair na tentação do episódico ou na armadilha da dispersão.

Contudo, estes desafios podem trazer também, já estão a trazer, efectivamente outras tantas oportunidades ou vantagens para os historiadores. As ferramentas da Web 2.0 podem ajudar a transformar a nossa disciplina, onde a facilidade em criar redes, em partilhar resultados, em encetar trabalhos colaborativos e interdisciplinares pode e deve ser uma perspectiva a valorizar. Apesar de tudo, parece ser seguro dizer que a História e os historiadores não ficaram imunes às mudanças das últimas décadas. É hoje evidente que a Internet e o mundo digital em geral, com os seus conceitos, linguagens e ferramentas, são uma componente essencial do trabalho de uma parte significativa de historiadores e podem representar uma mais-valia em termos da quantidade, acessibilidade, flexibilidade e diversidade da informação disponível, seja ela de âmbito geral ou específica da área de conhecimento histórico. Contudo, todas estas características e, em certo sentido, inovações introduzidas pela era da informação digital, não nos devem fazer esquecer uma componente essencial do trabalho do historiador, que deve estar sempre presente, esteja ele a lidar com a informação em formato analógico ou digital.
Essa componente é o espírito crítico, a análise criteriosa das fontes, o permanente colocar em questão se e de que forma as tecnologias digitais podem ajudar o seu trabalho e a fazerem dele um trabalho melhor e/ou diferente. Este sentido crítico deve fazer o historiador olhar para as vantagens e desvantagens de fazer ou recorrer à chamada “História Digital” e, a cada momento, ser capaz de “maximizar as primeiras e diminuir os efeitos das segundas”(Cohen e Rosenzweig 2006). Se o conseguir, através do recurso às tecnologias digitais, então é provável que ele possa levar a cabo uma história mais complexa, mais problematizante, mais global. Uma História que possa evitar os riscos da banalização, da simplificação ou até da adulteração a que o conhecimento histórico está sujeito em resultado do exponencial crescimento da Web colaborativa e social. No fundo, uma História, também ela, 2.0!

Bibliografia:
Ayers, Edward L. 1999. The Pasts and Futures of Digital History. http://www.vcdh.virginia.edu/PastsFutures.html.
Cohen, Dan. 2010. Is Google Good for History? Dan Cohen’s Digital Humanities Blog. http://www.dancohen.org/2010/01/07/is-google-good-for-history/.
Cohen, Dan, e Roy Rosenzweig. 2006. Digital history: a guide to gathering, preserving, and presenting the past on the Web. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
Mayer, Arno J. 1981. The Persistence of the Old Regime: Europe to the Great War. Taylor & Francis.
McLuhan, Marshall. 1977. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. Säo Paulo: Editora Nacional.
Rigney, Ann. 2010. “When the monograph is no longer the medium: historical narrative in the online age”. History and Theory 49 (4): 100-117. doi:10.1111/j.1468-2303.2010.00562.x.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Humanities 2.0: collaborative research and copyright challenges

Este é o título da nova sessão do DDH-Lisbon, a ter lugar no bar (1º andar) do edifício I&D da FCSH (antigo DRM), no próximo dia 3 de Março, pelas 18 horas. O encontro é aberto a todos os que queiram participar e discutir sobre as implicações do uso das tecnologias digitais na produção científica na área das Humanidades. Esta sessão será dedicada às questões da investigação colaborativa e dos direitos de autor na era digital e da Web 2.0. Serão discutidos dois textos de Dan Cohen e T. Mills Kelly.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Decoding Digital Humanities Lisbon

DDHLX Lisbon é um encontro informal mensal aberto a todos os interessados em discutir a aplicação das tecnologias digitais ao estudo e investigação nas Humanidades. Pretende-se criar um fórum de discussão de textos, ideias e projectos, fomentando o diálogo entre as diversas disciplinas das humanidades, na sua ligação com o digital. Os encontros decorrem na Livraria Pó dos Livros, Av. Marquês de Tomar, nº 89. Decoding Digital Humanities é uma iniciativa associada ao Centre for Digital Humanities - University College London. A versão de Lisboa está sediada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) e é coordenada por Andreia Martins Carvalho e Daniel Alves.
A primeira sessão foi em Novembro, dedicada ao tema "Humanidades Digitais. Reflexões académicas". No final do corrente mês de Fevereiro (data e tema a anunciar brevemente) terá lugar a segunda sessão.